Aqui há duas semanas fui sair com um tipo alemão que conheci no couchsurfing. Ele estava de passagem por Braga e acabamos por ir jantar num dos pares de dias em que ele por cá ficou.
Por entre as várias conversas que tivemos, houve um aspeto particular que ressaltou dentro de mim e que me deixou a pensar nos dias que se seguiram. Estava a comentar que me parece que os alemães viajam imenso e que, de acordo com a minha curta, mas existente experiência de viagens, os alemães me pareciam ser a nacionalidade que mais viaja. Sustentei esta “minha teoria” em três argumentos que me parecem lógicos – em primeiro são um povo com elevado poder de compra em relação aos demais, em segundo porque têm mais dias de férias do que a maioria dos outros países e em terceiro porque o conceito de viajar está muito presente na sua cultura. Ao que o rapaz me responde que sim, que concorda, mas que isso nem sempre é bom.
“Wooow, como assim viajar pode não ser bom?!”, indaguei imediatamente.
“Não sei como explicar, mas quando começas a viajar cedo e tens dinheiro para viajar quando queres e nas condições que queres, acabas por viajar tanto que, aos 40 anos, estás vazio”.
Segundo a opinião do moço, algumas das pessoas que ao longo da vida tinham viajado à mercê da sua vontade, tinham vivido tantas experiências que, a dada altura da sua vida, era difícil deixarem-se impressionar.
“Aos 40 já toda a gente fez um curso de mergulho no Hawai, um safari em África e um trekking nos Himalaias. E depois ficas frustrada”.
Ora isto extravasou tudo aquilo que defendo em matéria de viagens – de que viajar nos torna melhores pessoas, que nos ajuda a relativizar os problemas do quotidiano e que, em suma, nos transforma. Se calhar isto não é tão linear assim. Se calhar a viagem só poderá ser transformadora a quem se presta a tal possibilidade. Será que é mesmo verdadeira a velha máxima de que, “tudo o que é em exagero é mau”, até viajar? Também pensei que, esta opinião do rapaz poderá advir do poder económico da maioria dos alemães que viajam – isto é, viajar com dinheiro é diferente e permite-nos ter certas condições que não nos obrigam a nos relacionarmos tanto com a população local. Por outras palavras, obriga-nos a uma menor interação cultural. E parece-me que se uma viagem pode ser transformadora, sê-lo-á, em grande parte, pela interação cultural que encerra. Ora, se a maioria desses tais alemães que o moço fala viajarem em sistema tudo incluído talvez não usufruam dessa grande vantagem que viajar nos permite – a de conhecer outras culturas e de nos permitir mudar e crescer em função dessas mesmas experiências.
Afinal, nós vivemos a interpretação das nossas experiências e não propriamente as experiências em si.
“ nós vivemos a interpretação das nossas experiências e não propriamente as experiências em si”
Parabéns! É tão verdade.