Já estou há 5 meses e meio em viagem. Saí de Portugal com um bilhete de ida em parte por medo de não saber quanto tempo aguentaria. Sabia de pessoas que tinham viajado por 5 ou 6 meses e que haviam regressado com “saudades de casa”, “saudades da comida”, “saudades do seu cantinho”. De alguma forma, a sua viagem havia cumprido o seu objetivo.
Já eu nunca tinha estado mais de 3 semanas longe de Portugal. Não sabia como me iria sentir depois de 2 ou 3 meses. E se quisesse voltar? E se estivesse com saudades? Talvez me fosse arrastar numa viagem que já não fazia sentido, só porque tinha um bilhete de volta marcado para uma viagem de 6 meses. Por outro lado, o meu grande desejo era ser livre. E isso implicava também ter liberdade sobre a duração da viagem. Foi fácil então decidir que “ia viajar sem data de regresso”.
“Quando me sentir satisfeita ou ficar sem dinheiro regresso”, disse eu, antes de vir.
Despedi-me dos meus dizendo que lá para a Páscoa, dali a uns 6 meses, havia de estar de volta a casa. Mais coisa menos coisa. Estou a 2 semanas de fazer 6 meses e a um mês da Páscoa. Continuo sem data de regresso. Mais do que sem uma data, não me sinto pronta para voltar.
(Ou será que tenho medo de encarar a realidade? Não sei. Por outro lado, não é esta também uma realidade? E se eu preferir esta realidade, estou disposta a pagar o preço por ela?) – Alguns dos meus devaneios
Nunca pensei que 5 meses depois não teria nem uma pontinha de vontade de regressar. Hoje eu só queria ter planeado esta viagem para um ano para saber que ainda estou só a meio.
É verdade que já vivi muito aqui, já muitas vezes fui testada e bati com a cabeça. Já perdi a conta às vezes em que chorei como um bebé e às vezes em que me senti a pessoa mais feliz do mundo. Já conheci muitas pessoas bonitas, já ouvi muitas histórias inspiradoras e já vi lugares incríveis. Já tive duras batalhas interiores e já questionei o que nunca tinha ousado questionar antes. Mas ainda há tanto para viver.
Sou uma pessoa tão rotineira e organizada que eu própria me surpreendo em como é que consigo gostar tanto desta vida de estrada, do desconhecido e do inusitado. Mas isto faz parte de mim mais do que qualquer outra coisa. Posso voltar a ter uma vida dita normal depois disto, com um emprego e horários para cumprir, mas vai haver sempre uma próxima grande viagem a fazer e um mealheiro à cabeceira da cama a contar as moedinhas para a próxima aventura. Será um ciclo que se fecha sem realmente se fechar. Haverá sempre um feixe de luz que me lembrará que tenho sempre mais um pedaço de mundo para descobrir. Preciso disto como de ar para respirar.
No Vietname conheci um rapaz que tinha andado a viajar com um espanhol que já estava na estrada há 18 meses. Já tinha corrido meio mundo, já tinha vivido experiências inacreditáveis e já tinha até se apaixonado por uma indiana. Já tinha vivido de tudo o que há para viver em viagem. Findados os 18 meses, decidiu que era hora de regressar a Espanha.
“Preciso de voltar para saber por que é que fui embora.”
Esta frase ficou-me na cabeça e nunca fez tanto sentido como agora, quando todos me começam a perguntar por datas. É este o timing certo! Mais do que contar dias, meses ou destinos, é o nosso coração que sabe quando é a hora de voltar. A hora em que já estamos satisfeitos com o que vivemos e com o que descobrimos. A hora de fechar um ciclo e começar outro. A hora de regressar ao nosso cantinho.



És realmente uma fonte de inspiração. Tão bom ser livre! Tão bom não obedecer a rotinas. Também me estou a preparar para isso, mas só daqui a uns 15 anos quando me reformar. É assim que quero acabar os meus dias! Sem horários, sem rotinas, a apreciar cada acordar…livre! Tenho este sonho e vou cumpri-lo!
Amei ler as tuas reflexões. Que tires muitas mais aprendizagens. Um dia gostaria de fazer algo do género. Beijocas
Adorei a frase ‘ preciso de voltar a Portugal para perceber porquê que fui embora ‘
Realmente faz todo sentido !
Grande miúda ! Bjs