Por que raio gosto tanto de viajar sozinha?

Viajar sozinha tem inúmeras vantagens: estamos mais predispostos a interagir e a conhecer novas pessoas, entregamo-nos mais aos locais onde estamos e, a nível pessoal, compromete um grande momento de introspeção e crescimento. Não acho que toda a gente o deva fazer. Acho que quem aprecia este tipo de viagem devia, pelo menos uma vez na vida, experimentar. Mas, de facto, há muitas pessoas que não apreciam estar sozinhas, outras até que não gostam mesmo de viajar. Quanto a isso acho que cada um deve fazer aquilo que gosta, seja a viajar sozinha, a trabalhar num laboratório ou a vender farturas.

Estamos aqui para sermos felizes e deve ser sempre esse o nosso foco diário.

No entanto, e dentre as várias vantagens de viajar a solo, acho que quem o faz tem uma razão muito íntima e muito pessoal. Sempre me perguntei qual seria a minha e sempre divaguei entre motivos pouco sólidos. Acho que foi no regresso desta última viagem, já em Portugal, que o entendi. Sou uma pessoa muito organizada, muito rotineira, com natural tendência para controlar a vida. Estar a viajar sozinha e sem planos é o extremo oposto à minha personalidade. Por isso é que muitas vezes me pergunto como posso ser tão feliz fazendo algo que me é tão contra-natura.  É verdade que gosto de estar sozinha. Sou boa companhia de mim própria e acho que isto é muito importante. Aconteça o que acontecer nas nossas vidas é sempre connosco que vamos estar e sermos felizes na nossa companhia é uma ferramenta fundamental para a vida. Deveremos ser aqueles que nunca nos irão faltar. Posso estar um dia inteiro sozinha, sem falar com ninguém, que me sinto incrivelmente feliz.

Com exceção da Tailândia, nuca tive um destino de sonho. Não tenho nenhuma bucket list e nenhum dos países que visitei me atraia profundamente (ressalvando, outra vez, com exceção da Tailândia). Na verdade, o destino pouco me importa porque, o que eu gosto mesmo, é de estar fora da caixa. Além disso, conheço sempre pessoas diferentes que, geralmente, não são desse país. Nas minhas memórias, Budapeste sabe-me a Paquistão, Liubliana toca na Turquia e Praga transporta-me para a América do Sul. São mais as pessoas que fazem o destino do que propriamente o destino. Não sou aquela pessoa que pega no mapa, percorre todos os pontos turísticos e aprende toda a história de determinada cidade. Como raramente planeio as minhas viagens chego ao ridículo de às vezes regressar e, quando me perguntam, “Ei o que achaste da Catedral de não sei quê em não sei onde?” e eu fico com aquela poker face de quem nem por lá passou. Aprecio mais duas horas num jardim descalça a ouvir música do que propriamente a estar em filas demasiado turísticas com dezenas de chineses com o seu selfie stick.

Isto leva-me a concluir que viajo para estar a viajar e não tanto para conhecer determinada cidade.

Acho que aquilo que realmente me prende a este modo de estar é o sair fora da caixa, sair fora desta bolha social que nos faz achar a melhor bolacha do pacote (para quem quiser saber mais sobre o impacto de uma bolha social, o youtuber Filipe Castanhari tem um vídeo excelente sobre isso, aqui). Em Portugal, e na Europa, somos todos muito parecidos. Pensamos mais ou menos da mesma maneira e ambicionamos mais ou menos as mesmas coisas. Levamos a vida com um certo sentimento de superioridade e com uma enorme pretensão de ser isto ou ter aquilo. Em viagem conhecemos pessoas de culturas muito diferentes da nossa. Passar um dia com alguém do Taiwan, da Coreia do Sul ou da Turquia é um brainstorming gigante. Temos tendência a fazer todas as perguntas e mais algumas, sobre se é mesmo assim que se faz lá, se isto ou aquilo que se diz é verdade, etc. Estabelecemos contacto com pessoas tão diferentes de nós, com hábitos, estilos de vida, opiniões, maneiras de ser e de estar completamente diferentes. Somos todos tão distintos, com oportunidades de vida às vezes também demasiado distantes e por vezes até injustas. A disparidade é incrível. E o mais interessante é que, apesar de sermos tão diferentes, somos ainda mais iguais. Somos todos tão humanos. Somos de carne e osso, todos sentimos a tristeza e a alegria da mesma maneira e todos procuramos, de formas tão diferentes, ser felizes. É muito ténue a linha que separa o tão diferente do tão igual. E estar em contacto com pessoas cujo objetivos de vida não passam, de todo, pelas nossas ambições faz-nos perguntar “Fodass, de onde caralho este gajo saiu?” Isto é sair da bolha social, isto é o verdadeiro poder da multiculturalidade. É desconstruirmo-nos a toda a hora. É olhar para dentro, para a nossa maneira de ser, e pensar “Por que é que sempre pensei assim? E se for assado?”. Isto faz-nos reequacionar a vida, faz-nos redimensionar o nosso mundo, faz-nos crescer. Torna-nos mais humildes, mais tolerantes, menos pretensiosos, mais desapegados.

Algumas das amizades que fiz na última viagem 🙂

Voltei a Portugal com a alma limpa, com uma enorme vontade de viver cada dia como se fosse o último, com um enorme sentimento de gratidão pela experiência que vivi e pelo quanto ela me fez crescer. Voltei revigorada e com vontade de transmitir este feeling para toda a gente. Mas, enquanto eu vivi 3 semanas alucinantes, por aqui as coisas continuaram iguais. As pessoas continuavam a queixar-se do mesmo, os problemas do trabalho, do dinheiro ou de outra porra qualquer. É impressionante como a mínima coisa consegue minar o nosso dia por completo. E eu aqui a pensar “Fodass, a vida são dois dias, isso não pode ser assim tão grave, bora lá viver”. Mas a verdade é que a rotina nos engole e o efeito wanderlust vai-se dissipando com o tempo. Não posso fugir à rotina nem a esta bolha individualista. Mas já experimentei o outro lado e posso usá-lo como arma de arremesso contra o hábito, contra o que tem de ser ou o que deve ser. Foi quando regressei a Portugal e me confrontei novamente com a minha realidade que entendi por que raio gosto tanto de estar lá longe, sozinha. Por que lá não há nada disto. Lá não há estes problemas, não há tendências, estereótipos ou rotinas. Lá não preciso de muita coisa para ser feliz. É para sair da caixa e para aprender com o tão diferente que viajo.  É para sair desta bolha social, para estar num mundo só meu, mas ao mesmo tempo de toda a gente que queira partilhar uma boa cerveja e dois dedos de conversa 😊.

 

Em Chiang Rai 🙂

 

 

1 comentário em “Por que raio gosto tanto de viajar sozinha?”

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