Já aqui escrevi um post sobre por que é que gosto tanto de viajar na minha companhia. Porém, acho que aquilo que desperta mais curiosidade nesta viagem é o facto de a fazer sozinha e por isso decidi escrever um post dando o meu ponto de vista sobre o assunto.
Começo com um pequeno parêntesis sobre aquilo que, possivelmente, já todos sabem. Viajar sozinha não é estar sempre sozinha. Muito pelo contrário, pois o facto de estarmos sozinhos dá-nos mais abertura para conhecer pessoas novas e, portanto, estamos constantemente a criar novas relações com os outros. E isso é fundamental numa viagem a solo. Nós somos seres biologicamente sociais, não sabemos viver sozinhos. Se uma viagem destas significasse estar sempre sozinho, facilmente se tornaria num pesadelo.
Ainda assim, não significa que estejamos sempre acompanhados. Não sou apologista da ideia de “Viajar sozinho não é estar sozinho” porque é mentira. Há momentos em que estamos sozinhos, há dias em que não conhecemos ninguém, há dias em que estamos praticamente em silêncio. E, engraçado, há dias também em que, pelo menos eu, quero estar sozinha. E acho que são estes momentos que mais “aterrorizam” as pessoas quando equacionam uma viagem destas.
Ora, estar sozinho significa estar connosco próprios. E, por conseguinte, pressuponho que se temos medo de estar sozinhos, temos medo de estar na nossa própria companhia. E isto sim, creio que é problemático. Já escrevi isto aqui, mas volto a frisar, nós somos a única pessoa com quem vamos ter de estar para sempre. Se não formos boa companhia de nós próprios, não estaremos a comprometer o nosso bem-estar? Dado que estaremos sempre dependentes da presença de outros para nos sentirmos satisfeitos?
Há que desconstruir esta ideia de solidão quando se fala em estar sozinho. Solidão é um sentimento bem diferente, é um sentimento de falta que não está relacionado com a presença de outras pessoas. Inversamente, estar sozinho, pode ser, e é, altamente enriquecedor. E quanto às viagens acredito que o poder de estar sozinho se intensifique um pouco mais.
Passo a explicar: numa viagem destas conhecemos muitas pessoas, ouvimos muitas estórias, vemos muitas coisas que não vemos usualmente no nosso quotidiano. De uma forma geral estamos constantemente a ser sacudidos com realidades diferentes. Quando estamos acompanhados estamos a aproveitar o momento, estamos a rirmo-nos, a conversar, enfim, a criar relações (tal como fazemos em Portugal). Contudo, depois desses bons momentos de partilha, surgem momentos em que estamos sozinhos, em que regressamos à nossa concha. E, pelo menos para mim, é nessas alturas que faço uma espécie de revisão àquilo que vivi naquele dia, ou com aquela pessoa, e que começo a refletir sobre o assunto. É aí que começo a pensar “Bolas, não a posso julgar”, ou “Bolas, com é possível ele ser feliz assim”. E esta corrente de pensamento apenas surge, irremediavelmente, no silêncio, ou melhor, à conversa connosco. É nestes momentos que, de forma quase inconsciente, crescemos.
Acabamos por colocar em perspetiva certos conceitos que até então eram paradigmas. Conceitos de felicidade, individualidade, tolerância, pertença. No meu caso, mais do que destruir paradigmas, acho que esta viagem tem testado aquilo que eu acho que sou.
Se uma viagem a solo é, do ponto de vista pessoal, enriquecedora e fonte de autoconhecimento, não é pelas lindas praias que vemos, pelas belas fotos que tiramos, ou pelas cervejas que bebemos. É pelos momentos de silêncio e introspeção que constantemente nos testam, nos fazem ponderar, pensar, mudar de lugar. Crescer. E parece-me que temos muito medo do silêncio. Não há que ter medo de estarmos na nossa companhia. Há sim que aprender a fazê-lo de forma produtiva. Há que estar sozinho e estar feliz, estarmos a rirmo-nos de nós próprios. E isto sim, é uma arma contra a solidão e uma importante ferramenta de vida.