(Esta viagem é muito mais do que uma viagem. É uma experiência de vida. Uma espécie de viagem interior. Alguém disse um dia que “queremos dar a volta ao mundo mas o mundo é que nos dá a volta a nós”. E é muito isto. Estou aqui mais para me descobrir do que propriamente para conhecer lugares. Estou aqui para ouvir histórias, para ver rostos, para conhecer aquilo que é diferente e para descobrir o meu lugar no mundo. Sou também adepta de listas, sejam elas de que tipo for. E desde que cá estou que tenho feito uma lista sobre as lições que tenho aprendido nesta minha jornada pelo mundo. Inicio aqui uma série de textos sobre tudo aquilo que me têm feito refletir, tudo aquilo que tenho aprendido. Provavelmente sobre tudo aquilo que irá moldar o meu futuro e a minha vida. Se este é um blog sobre a minha experiência pessoal e se esta viagem é também uma viagem interior, acho que faz todo o sentido partilhá-los aqui. Espero que gostem 😊)
Recentemente as minhas amigas vieram visitar-me e passamos 10 dias juntas. Três amigas tugas que já não me viam há 5 meses – imaginem lá a conversa e a farra que isto não deu. Conversamos muito, rimo-nos como eu já não me lembrava e divertimo-nos imenso. Mas hoje escrevo não sobre os bons momentos que passamos, mas sobre algo que me despertou quando elas se foram embora. Elas saíram por volta das 5h da manhã e eu fiquei mais um dia no hostel.
E por mais estranho que pareça, nessa mesma manhã aquilo que mais me surpreendeu foi o silêncio que estava no quarto quando acordei. No mesmo quarto onde, nos dias anteriores, já alguma de nós estava a falar antes das 9h da manhã, nem que fosse para contar o sonho que teve. Os dias com elas foram, para mim que já cá ando há 6 meses, mais cansativos do que o normal. Não só porque tentamos conhecer ao máximo os locais por onde passamos, mas também porque estávamos sempre a falar. É normal, não nos víamos há meses, somos muito próximas e, portanto, não houveram 30 minutos destes 10 dias de silêncio!
Mas foi a brusca diferença entre a conversa permanente e o silêncio absoluto depois de elas terem ido embora, que me fizeram perceber como eu passo, aqui, muito tempo em silêncio. E como eu me acostumei bem com ele.
Uma amiga minha fez uma altura um estágio na Dinamarca, em Copenhaga. Quando voltou, e no meio das muitas histórias que me contou, houve uma que me ficou no ouvido: o silêncio culturalmente aceite dos países nórdicos. Ao que parece é muito usual as pessoas ficarem em silêncio quando não tem nada para dizer, mesmo que em encontros românticos. Ora isto para nós, portugueses de gema, não é normal. Um silêncio longo num café com um amigo, à mesa do jantar ou noutra qualquer situação de convívio, é estranho. Se não há tema, desfia-se uma conversa sobre o tempo, como se costuma dizer.
Não é difícil encontrar viajantes dos países nórdicos por aqui e sempre que a conversa surge conto-lhes essa história dessa minha amiga, e em como isso, para nós portugueses, é estranho. Uma dada altura estava a falar com um alemão sobre isso e ele ficou super surpreendido por nós sermos assim. Lembro-me de ele me ter dito:
Nesse dia decidimos pôr isso em prática. Estávamos em Hói An, no Vietname, e sentamo-nos numa esplanada de rua. Pedimos um café e ficamos em silêncio, a viver aquele momento para nós mesmos. Estava um senhor à nossa frente a pintar uma mesa e fiquei a observar o cuidado com que ele pintava os pormenores e por fim o seu ar de satisfação quando terminou a sua obra de arte. Confesso que tive vontade de partilhar aquilo que estava a pensar e lembro-me de ter agarrado no meu caderno e de ter escrito umas notas. No final de uns 20 minutos o Clemente foi o primeiro a falar e a quebrar o gelo. Também ele tinha estado a observar o artista da frente. Foi a primeira vez que estive em silêncio durante muito tempo com alguém, sem isso se tornar constrangedor ou embaraçante.
Sabem aquelas pessoas que chegam a casa e ligam a rádio ou a televisão, baixinho, como barulho de fundo? Eu era assim e se há algo de que realmente tenho saudades é de ouvir rádio. Às vezes, quando estou sozinha no quarto do hostel ligo a rádio comercial e começo a ouvir as notícias da manhã, mesmo que aqui já seja hora de jantar. Isto enquanto dobro as roupas ou faço a mala. Mas também é verdade que às vezes me incomoda esse barulho de fundo, como se isso trouxesse mais azáfama e confusão ao momento. E já por muitas vezes desliguei a rádio e fiz o que tinha a fazer em silêncio, apenas porque me sentia melhor assim. Recordo-me de numa entrevista ter ouvido alguém dizer, “Tenho medo de pessoas que não sabem estar em silêncio”. Tenho refletido sobre isso nestes últimos dias.
Para o bem e para o mal viajar sozinha implica aprender a estar em silêncio e sentirmo-nos bem com ele. É aprender a estar em silêncio connosco mesmos, o que significa desligar a mente e estar apenas presente. O contrário de estar em silêncio à conversa com os nossos pensamentos.
Só quem experimenta percebe realmente o verdadeiro sentido do texto. Saber estar connosco é um dom… Parabéns
Girl from nowhere,
Adorei o teu texto. Viajar é inspirar, é partilhar, é experienciar e,acima de tudo, aprender com ela.
Boas Descobertas.
Parabéns. Muitíssimo bom texto e reflexão
Muito obrigada 🙂
Boa reflexão! Nunca tinha pensado nisso ! Estar em silêncio ao lado de alguém ! Boa ! Bjs