Tana Toraja situa-se no sul da ilha de Sulawesi, na Indonésia, e é conhecida pelos seus rituais fúnebres únicos no mundo. Aqui, a morte ganha um novo significado e um funeral é mais do que uma simples cerimónia de despedida. Na verdade, os rituais fúnebres em Tana Toraja são o evento social e espiritual mais importante da vida e os torajas levam anos a prepará-los. Visitar Tana Toraja não é fácil e este não é um destino para qualquer viajante. É para aqueles que, mais do que belas paisagens e boa comida, procuram conhecer culturas sobejamente diferentes, com respeito e consideração pela diversidade cultural que tanto nos enriquece. Foi para estes viajantes que construi este guia completo, fruto da minha própria experiência no terreno, com todas as dicas e informações para visitar Tana Toraja.
Vamos lá?
Qual a melhor época para visitar Tana Toraja?
A melhor altura para visitar Tana Toraja é entre os meses de Junho e Setembro. É nesta época que acontecem a maioria das cerimónias fúnebres, pois corresponde à época da colheita do arroz. Logo, se fores nesta altura, terás uma maior probabilidade de conseguir assistir a uma cerimónia destas.
De todos, o melhor mês para visitar Tana Toraja é sem dúvida o mês de Agosto, já que nesta altura acontecem não só funerais, como também o Ma’nene, um dos rituais mais surreais a que já alguma vez assisti.
Quantos dias ficar em Tana Toraja?
Pelo menos três dias são necessários para visitar Tana Toraja. Além das cerimónias fúnebres, há muitas outras atrações para conhecer, que facilmente preenchem três dias de viagem.
Além disso, os funerais não acontecem todos os dias. Logo, se tiveres mais tempo, tens uma maior probabilidade de conseguir “apanhar” uma destas cerimónias.
Como chegar a Tana Toraja?
Para visitar Tana Toraja, tens primeiro de chegar à cidade de Makassar, no sul da ilha de Sulawesi. É esta a porta de entrada para quem quer explorar o sul da ilha. Há voos diretos desde Bali, Jakarta, Surabaya e creio que também de Singapura.
Depois, terás de fazer o trajeto entre Makassar e Rantepao, a cidade base para visitar Tana Toraja. Existem duas formas de fazer este trajeto – de avião e de autocarro.
- Se optares pelo avião, tens de voar entre Makassar e Palopo. Chegando a Palopo, tens de contratar um táxi para te levar a Rantepao, numa viagem que dura 2 horas e custa em média 50€. Deixo-te aqui um contacto de whatsapp de um motorista que faz este trajeto (Yus - +62 813 4269 7766).
- Se optares pelo autocarro, então espera-te uma viagem de 10 a 12 horas entre Makassar e Rantepao. Existem várias empresas a fazer esta ligação, sendo que as mais famosas são a Metro Permai, a Bintang Permai e a Bintang Timur. Há dois autocarros por dia - um diurno, que sai às 8h da manhã de Makassar e chega a Rantepao por volta das 20h; e outro noturno, que sai às 19h30 e chega a por volta das 6h da manhã. Os autocarros noturnos têm camas individuais e devo dizer que as condições são muito boas.
Nota: Existe um aeroporto mais perto, mesmo em Tana Toraja, mas não recomendo voar diretamente para lá. Além de haver poucos voos por semana, a probabilidade de estes serem cancelados é grande, já que o aeroporto fica no meio das montanhas.
Como visitar Tana Toraja?
Há muito para ver em Tana Toraja, além das famosas cerimónias fúnebres. No entanto, a maioria dos pontos de interesse ficam afastados de Rantepao e, por isso, terás necessariamente de contratar um guia para visitar Tana Toraja, de modo a conseguires conhecer todos os pontos de interesse.
Tendo estado mais de uma semana a visitar Tana Toraja, diria que o ideal é dividir o itinerário base em três dias – um para explorar a zona de Toraja Utara, que fica a norte; outro para explorar o a região de Tana Toraja, que fica a sul; e outro para assistir a uma cerimónia fúnebre, ou ainda ao Ma’nene, se tiveres sorte.
Deixo-te aqui o contacto de alguns guias que conheci durante o tempo que passei em Rantepao:
- Yusef (+62 813 5465 5236) – um guia extremamente simpático e divertido, que fala muito bem inglês e que conhece a cultura melhor do que ninguém. No entanto, é bastante requisitado e é possível que não tenha “vagas”.
- Hendrick (+62 812 4251 6216) – este foi o guia com quem passei mais tempo. O Hendrick é extremamente atencioso e simpático. Tem um ótimo inglês e é um expert no que toca à cultura dos torajas. Está bastante habituado a fazer tours com criadores de conteúdo, por isso sabe perfeitamente quais são os hidden gems de Toraja.
Alternativamente, poderás também alugar uma scooter e percorrer os diversos pontos por conta própria, exceto as cerimónias fúnebres. Para estas, terás mesmo de contratar um guia local que te saiba integrar na cerimónia de uma forma respeitadora.
Se vais visitar Tana Toraja, não te esqueças de fazer um Seguro de Viagem. Eu faço todos os meus seguros com a IATI e recomendo vivamente os seus serviços. Caso faças o teu seguro de viagem através deste link, poderás usufruir de um desconto de 5%.
O que visitar em Tana Toraja?
Conhecer as casas tradicionais de Tana Toraja:
É impossível ficar indiferente às pitorescas casas de Tana Toraja, devido à sua forma tão fora do comum. Chamam-se Tongkonann e são as casas tradicionais da cultura toraja. As mais pequenas servem sobretudo para armazenar arroz, enquanto que as maiores serviam de habitação para toda a família. Atualmente, a maior parte das famílias não vive nas Tongkonann, mas ainda as utilizam para algumas cerimónias. Em frente ao Tongkonann principal, os torajas exibem os cornos dos búfalos que aquela família já sacrificou. É uma demonstração de status social.
Não há grandes certezas sobre a origem da sua arquitetura. Os torajas acreditam que a forma das suas casas se assemelha aos cornos do búfalo, o animal mais importante na sua cultura. Já os antropólogos defendem que a sua forma se assemelha à forma de um barco, já que os torajas descendem do grupo étnico yunan, que colonizou o sul de Sulawesi.
Não se pode visitar Tana Toraja sem fazer uma paragem nestas aldeias. Há imensas espalhadas à volta de Rantepao e de certeza que o guia te levará a alguma delas.
Visitar o mercado de búfalos:
O sacrifício de búfalos faz parte das cerimónias fúnebres dos torajas. Eles acreditam que, com a morte dos búfalos, a alma dos seus entes queridos conseguirá ascender até puya, um estado de transição que antecede a chegada ao céu. Quantos mais búfalos sacrificarem, mais facilmente a alma ascenderá. As famílias ricas sacrificam no mínimo 24 búfalos, ao passo que uma família de classe média sacrifica pelo menos 12. Já uma família pobre terá, pelo menos, de sacrificar um animal.
Estes animais são diariamente transacionados no mercado de búfalos, no centro da cidade de Rantepao. É aqui que se compram e vendem búfalos para as cerimónias que vão acontecer nos próximos dias. O preço de um búfalo depende do tamanho e do peso, mas a média ronda os 3 a 4 000€, cada um. Os búfalos albinos, por sua vez, são os mais caros. O seu preço ultrapassa facilmente os 20 000€ e pode chegar até aos 50 ou mesmo 70 000€! Para conseguires estabelecer uma comparação, considera que o salário médio em Tana Toraja ronda os 250€/ mês.
O mercado acontece todos os dias, mas a melhor altura para o visitar é de manhã, já que é nesta altura que há mais movimento.
Visitar as sepulturas em Batu Lemu:
Depois da cerimónia fúnebre, o caixão é sepultado em túmulos que são escavados nas rochas. As famílias ricas, em cujos funerais se sacrificam mais de 24 búfalos, têm direito a ter uma pequena estátua em frente à sua sepultura. Estas estátuas, feitas de madeira, chamam-se tau tau e podem ser encontradas nas sepulturas de Batu Lemu.
Apesar de estas estátuas não serem propriamente caras, são sem dúvida um símbolo de estatuto social. Para visitar Tana Toraja e conhecer esta cultura, recomendo uma visita à aldeia de Batu Lemu.
Entrada – 50 000 IDR
Visitar a árvore onde são sepultados os bebés:
No caso dos bebés, os funerais são ligeiramente diferentes. Se o bebé falecer antes de lhe nascer o primeiro dente, os torajas não sacrificam animais, pois consideram que a sua alma ainda não está formada (logo não necessita de ascender até puya).
Nestes casos, o bebé é sepultado nestas árvores, conhecidas por apresentarem uma seiva esbranquiçada. Os torajas chamam-lhe “árvore da vida” e acreditam que esta vai alimentar os seus bebés.
O corpo do bebé é sepultado na direção oposta à da casa dos pais, para que este não “os veja”. A mãe também não deve visitar a sepultura do filho, para evitar que a alma do bebé deixe a árvore e persiga a mãe.
Entrada – 30 000 IDR
Conhecer a gruta de Tampang Allo ou de Lombok Parinding:
Antes de os corpos serem sepultados em túmulos escavados nas rochas, os caixões eram simplesmente “guardados” em grutas. E é um destes locais que podes visitar em Tampang Allo ou Lombok Parinding – são essencialmente grutas onde existem dezenas de caixões de madeira. Como estes túmulos são muito antigos (alguns deles têm mais de 200 anos), muitos deles já estão destruídos. E por isso estes locais estão repletos de crânios e ossos humanos. É um pouco creepy.
A gruta de Tampang Allo é a mais conhecida. Além de ossos e caixões, preserva também alguns tau taus. Já a de Lombok Parinding fica a norte e é mais inacessível. Talvez por isso e por quase não ser visitada por ninguém, achei-a muito mais assustadora.
Entrada – 30 000 IDR para ambas
Fazer um trilho pelos campos de arroz em Tana Toraja:
Uma das razões pelas quais acho essencial ter pelo menos três dias para visitar Tana Toraja, é precisamente para visitar a zona norte. Esta parte está repleta de montanhas e oferece paisagens espetaculares sobre os campos de arroz.
Uma das atividades que podes fazer por aqui é um trilho pelos campos de arroz (com guia, claro!). E se tiveres mais tempo, podes ainda fazer um trilho mais longo e ficar a pernoitar numa homestay local. É uma das atividades que mais tenho pena de não ter feito, mas a minha condição de grávida na altura não permitiu.
Assistir a uma cerimónia fúnebre da cultura toraja:
E, por fim, vamos à cereja no topo do bolo para quem quer visitar Tana Toraja, que é assistir a uma cerimónia fúnebre. Pois bem, tal como já te disse acima, convêm planeares a tua viagem numa altura mais propícia para assistir a estes rituais (entre Junho e Setembro), e ter alguns dias de margem para os conseguires “apanhar”.
No instagram do @visittorajautara são publicadas as datas e locais de algumas cerimónias, mas só na zona norte da ilha. Ou seja, há muitos outros funerais a acontecer, que não são aqui mencionados. No entanto, os guias locais sabem perfeitamente onde e quando são os funerais, por isso não tens de te preocupar em procurá-los.
Para visitar Tana Toraja e assistir a uma cerimónia destas tens obrigatoriamente de te fazer acompanhar por um guia e tens também de levar uma oferenda. Por norma costuma oferecer-se um pacote de açúcar ou um maço de tabaco à família do falecido, mas depois o guia vai explicar-te isso melhor.
Os funerais duram cerca de 5 a 6 dias, mas se for possível recomendo-te a ir a um dos primeiros 2 ou 3 dias. Isto porque é na parte final que acontece o sacrifício de búfalos e, se não quiseres assistir a um autêntico banho de sangue, o melhor é evitar estes dias. Nos primeiros dois dias também há sacrifício de animais, mas normalmente é só de um ou dois (e mesmo assim achei duro de assistir!).
Por fim, uma última recomendação - procura ter uma atitude de respeito durante a cerimónia. Lembra-te que és um convidado externo, não só daquela família, mas também daquela cultura. É normal que algumas práticas te façam confusão, mas tenta não exteriorizar isso seja por palavras ou até por expressões faciais. Tenta manter-te numa posição de observador.
Presenciar o ritual Ma’nene
Se conseguires visitar Tana Toraja no mês de Agosto, é possível que consigas assistir ao Ma’nene, um dos rituais mais surreais a que alguma vez presenciei. A cada três anos, as famílias abrem os caixões dos seus familiares e retiram de lá os corpos. Tiram-lhes as roupas, limpam o pó e depois deixam os corpos expostos durante umas horas para que os familiares possam “conviver” com eles. É um ritual super creepy mas enfim, faz parte da sua cultura e, como viajante, será certamente uma experiência inesquecível.
Já quanto ao cheiro, podes ficar descansado. Os corpos são previamente tratados com uma solução de formaldeído e ervas medicinais, por isso não cheiram mal. A maioria estão já “secos” e por isso não libertam cheiro.
Apesar de cada família abrir os seus caixões a cada três anos, este ritual acontece todos os anos. Ou seja, umas famílias abrem este ano, outras abrirão no próximo. Não precisas de “esperar 3 anos” para conseguir assistir. A melhor altura para visitar Tana Toraja e assistir a esta cerimónia é na segunda quinzena de Agosto.
O lembrete acima sobre o “comportamento a ter nestas cerimónias”, também é válido para o Ma’nene.
Onde dormir em Tana Toraja?
Durante a minha estadia em Tana Toraja, tive a oportunidade de experimentar dois alojamentos – a Rosalina Homestay e o Pia’s Poppies. Mas antes de mais, é preciso referir que a maioria dos alojamentos em Rantepao são pequenas homestays ou guesthouses, com instalações muito simples. Não esperes grandes comodidades, como internet ou ar condicionado.
Ambos os alojamentos em que fiquei são muito similares em termos de condições. Preferi ligeiramente o Pia’s Poppies porque, além da guesthouse, tem também um restaurante muito bom.
Onde comer em Tana Toraja?
Existem diversas opções para comer em Rantepao e vou deixar-te aqui algumas sugestões. Para comida exclusivamente local, sugiro-te o restaurante do Pia’s Poppies e o Monika Café & Resto. Junto ao parque de Lapangan Bakti, costuma haver um mercado de rua com várias opções para comer.
Para aqueles que preferem restaurantes mais ao estilo ocidental, recomendo o Kaana Toraya Coffee para um delicioso capuchino acompanhado por um crepe de nutela, o Peleton Café Toraja e ainda o Tori Coffee.
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Excelente artigo! Com riqueza de detalhes. Obrigada e parabéns pelo trabalho.