Dinheiro em viagem – Parte I

A gestão económica de uma viagem nem sempre é fácil. Principalmente quando nos deslocamos para destinos com uma moeda diferente, onde os câmbios, as taxas e as comissões podem ser uma verdadeira dor de cabeça. É importante termos alguns conhecimentos nesta área pois podemos perder muito dinheiro sem termos consciência. Na primeira viagem internacional que fiz perdi mais de 75 € em taxas e comissões numa viagem de 3 semanas. É muito dinheiro.

Neste post vou explicar as melhores formas para fazermos transações com o mínimo de custos possíveis. Para facilitar, vou dividir este post em duas partes: numa primeira parte falaremos de transações em cash, dinheiro vivo, e numa segunda parte abordarei a utilização de cartões bancários.

Em primeiro lugar a gestão do dinheiro em viagem depende do destino para o qual vamos viajar. Aqui, temos 3 classes de países:

– Destinos dentro da União Europeia cuja moeda é o EURO:

Neste caso, não temos de nos preocupar. Quanto às transações em dinheiro não é necessário fazer câmbio dado que a divisa é o euro. Quanto à utilização de cartões bancários também não nos precisamos de preocupar uma vez que estamos protegidos pelo princípio de igualdade de encargos. Este diz-nos que “a mesma instituição não pode cobrar comissões diferentes em pagamentos nacionais e transnacionais do mesmo tipo nos quais a moeda utilizada seja o euro” (Caderno dos Cartões, Banco de Portugal). Isto significa que, nestes países, pagam pelas vossas transações o mesmo que pagam aqui (portanto não pagam nada, a menos que utilizem um cartão de crédito, já que esse, em Portugal, tem uma taxa de utilização).

– Destinos dentro da União Europeia cuja moeda não é o EURO:

Neste lote de países temos duas opções: ou pagar em euros (quase sempre dão esta hipótese), ou pagar na moeda local. Se pagarmos em euros continuamos a estar protegidos pelo princípio da igualdade de encargos e, portanto, não pagamos taxas extra. Se optarmos por pagar na moeda local estamos sujeitos ao pagamento de taxas.

Ainda assim, neste caso, a melhor opção é sempre optar pelo pagamento na moeda desse país. Se optarmos por pagar em euros, vamos estar a pagar de acordo com o câmbio que o comerciante fizer. Ora como é lógico este câmbio só vai favorecer o comerciante. Ainda que paguemos taxas pela utilização da divisa local, não me parece que o valor dessas taxas ultrapasse o valor perdido no câmbio para euros.

Exemplo: Na minha última viagem, na Europa Central, estive em 4 países da zona euro que não aderiram à moeda única. Segundo os cálculos que fiz no final da viagem paguei cerca de 6 € em taxas, numa viagem de 3 semanas. O câmbio que faziam para pagar em euros era ridículo, principalmente em Praga e Budapeste.

– Destinos fora da União Europeia:

Todos estes destinos têm uma moeda diferente e isso implica duas coisas: primeiro a troca da moeda, para transações em dinheiro vivo, e segundo o pagamento de taxas associadas à utilização de cartões bancários. Este post serve fundamentalmente para este tipo de países. Para facilitar as explicações vou lançar a pergunta, dar as opções possíveis e então explicar qual a opção economicamente mais vantajosa.

 

Transações em cash (dinheiro vivo)

 

Para fazer transações em dinheiro fora da zona EURO precisamos de trocar dinheiro para a divisa do país para onde nos vamos deslocar. E é aqui que começam as dores de cabeça. Vamos lá começar:

 

1. O que é uma taxa de câmbio?

O câmbio é a operação de troca de uma moeda por outra. Quando estamos a cambiar dinheiro estamos a comprar moeda estrangeira. A taxa de câmbio é o preço que pagamos por essa compra. Ou seja, a taxa de câmbio é o valor de uma moeda em unidades monetárias da outra moeda.

Quando vamos a uma casa de câmbio há sempre duas colunas com as taxas, uma de compra e outra de venda. Quando estamos a comprar moeda estrangeira devemos seguir-nos pela coluna de venda (nós compramos, a casa de câmbio vende, logo é na coluna da venda que está o preço que vamos pagar por essa compra. É confuso, I know).

Exemplo:

EUR/USD = 1,15594

Isto significa que com 1 EURO conseguimos comprar 1,15594 DÓLARES. A unidade fixada é sempre a da primeira moeda (neste caso fixamos o euro).

Se invertermos, podemos dizer que:

USD/EUR = 0,86167

Com 1 DÓLAR compramos 0,86167 EUROS. Neste caso, fixamos o dólar e, portanto, na taxa de câmbio este aparece como a primeira moeda.


 

2. Como é que eu sei que estou a fazer um bom câmbio?

Todos os dias é publicado, pelo Banco Central Europeu, a cotação da moeda. Contudo, este é um valor de referência já que o mercado cambial é liberalizado. Isto significa que os bancos ou as casas de câmbio não são obrigados a seguir as taxas de câmbios publicadas diariamente. Normalmente, as entidades que vendem moeda tendem a acompanhar os valores publicados diariamente, mas não são obrigados a tal. Na verdade, podem vender a moeda ao preço que bem entenderem.

Assim sendo, para fazermos um bom câmbio temos de primeiro saber a cotação da divisa naquele dia (há várias apps para isso, como a Xe Currency). Depois, convém analisar as taxas de câmbio praticadas por 2 ou 3 instituições e ver aquela em que, com um euro, compramos mais unidades de moeda estrangeira. Esta será aquela que tem uma melhor taxa de câmbio. Porém, não devemos esquecer que o câmbio acarreta taxas que devem ser tidas em conta nos cálculos.

Exemplo:

Vamos fazer uma simulação em que pretendemos trocar 100 € por moeda tailandesa (Bath – THB).

A cotação de hoje do EUR/THB = 38,14. Portanto com um euro compramos 38,14 THB.

De seguida consultei a cotação do Bath em duas casas de câmbio: a Unicâmbio apresentava uma taxa de EUR/THB = 33,37226 enquanto que a Nova Câmbios tinha uma cotação de EUR/THB= 33,0033.

Na Unicâmbio com 1 EUR compro 33,37226 THB enquanto que, na Nova Câmbios, com 1 EUR compro 33,0033 THB. Ou seja, com a mesma quantidade de dinheiro (1 EUR) compro mais moeda estrangeira na Unicâmbio. Logo, esta instituição é aquela que oferece uma melhor taxa de câmbio! Ainda assim, a diferença não é significativa (0,0097 €).

Mas agora, vamos prestar atenção às taxas que cada instituição pratica. A Unicâmbio cobra 2,40 € de comissão por cada câmbio acima de 25 € ao qual acresce 4 % de imposto de selo sobre os 2,40 € (portanto 2,50 € em taxas). Já a Nova Câmbios não cobra qualquer taxa (o que acontece nestes casos é que a taxa já está implícita na cotação da moeda).

Portanto, vamos a contas:

Unicâmbio:

Valor pago – 100,00 + 2,50= 102,50 €

Valor recebido – 100,00 x 33,37226 = 3337,226 THB

PORTANTO NA UNICÂMBIO VAMOS PAGAR 102,50 € E VAMOS RECEBER 3337,226 THB.

 

Nova Câmbios:

Como esta casa de câmbio não cobra taxas, vamos assumir que iremos trocar 102,50 €, para manter o mesmo valor gasto, para ambos os casos.

Valor pago – 102,50 €

Valor recebido – 102,50 x 33,0033 = 3300,33 THB

PORTANTO NA NOVA CÂMBIOS VAMOS PAGAR 102,50 € E VAMOS RECEBER 3300,33 THB.

 

A quantidade de moeda tailandesa que conseguimos comprar é praticamente igual (há uma diferença de 36,896 THB, que corresponde a, aproximadamente, 0,97 €). Ou seja, embora a Nova Câmbios não apresente taxas, esta não oferece um melhor câmbio por isso. A melhor oferta é a da Unicâmbio, ainda que por uns cêntimos.

Isto mostra que o câmbio, por si só, não é o único indicador para uma boa troca. É necessário ter em atenção as taxas cobradas por estas transações. Por vezes a ideia de “sem taxas incluídas” pode parecer aliciante, mas é necessário ter cautela. As casas de câmbio têm de ganhar dinheiro de alguma forma.

 


 

3. Onde trocar dinheiro? No país de origem ou no país de destino?

Em teoria o câmbio compensa mais no país de destino, face ao país de origem. Isto porque, geralmente, as taxas de câmbio são mais favoráveis onde a moeda existe em maior abundância. Ainda assim, vale a pena acompanhar os câmbios entre os dois países um pouco antes da viagem pois pode não ser vantajoso.

Por vezes, em cidades extremamente turísticas, o câmbio praticado é horrível pois turistas menos atentos acabam por trocar dinheiro à mesma. Além disso, é nestas cidades que estão os aeroportos internacionais, onde as pessoas têm, obrigatoriamente, de trocar dinheiro à chegada.

Exemplo: 

Como vimos anteriormente, numa casa de câmbio portuguesa, com 100,00 € conseguimos comprar 3337,23 (Unicâmbio). Agora vamos fazer a mesma simulação para uma casa de câmbio tailandesa, a Superrich.

Supperrich:

EUR/THB = 38,10

Esta casa de câmbio cobra 0,06% por cada montante cambiado. Logo para cambiar 100,00 € teremos de pagar 0,06 €.

Valor pago = 100,00 + 0,06 = 100,06 €

Valor recebido = 100 x 38,10 = 3810,00 THB

Como podemos ver, com o mesmo dinheiro (100 €) conseguimos comprar mais moeda tailandesa na Tailândia do que em Portugal. Há uma diferença de 3810,00 – 3337,23 = 472,77 THB, o que corresponde a, aproximadamente, 12,40 €. NUM CÂMBIO DE 200,00 € ESTARÍAMOS A PERDER CERCA DE 24,00 €.

De facto comprova-se, o câmbio é mais compensatório no país de destino.


 

4. Onde trocar dinheiro no país de origem?

Mesmo que compense mais trocar dinheiro no país de origem, a maior parte das pessoas acaba por trocar um determinado montante aqui em Portugal, para estar precavido quando chegar. Em Portugal existem duas formas para trocar dinheiro:

– Por movimentação de conta: Neste caso temos de nos deslocar ao nosso banco e explicar que queremos trocar uma determinada quantidade de dinheiro. O banco vai debitar essa quantia da nossa conta à ordem e entrega-nos o dinheiro em mão. Não é preciso levantar dinheiro previamente. É também importante pedir o dinheiro ao banco com alguma antecedência pois a divisa pretendida pode não estar disponível no momento.

– Numa casa de câmbio ou num banco (ao balcão): Neste caso, temos de levantar dinheiro previamente e comprar diretamente a moeda pretendida, ou na casa de câmbio ou no banco (não precisa de ser no nosso banco).

Ambos os métodos implicam o pagamento de taxas e comissões. Ainda assim, os custos para trocar dinheiro por movimentação de conta são, geralmente, mais baixos face ao câmbio direto.


 

5. Onde trocar dinheiro no país de destino?

Há duas opções distintas para trocar dinheiro no país de destino: em casas de câmbio oficiais/ bancos ou em hóteis, lojas, casas de câmbio não certificadas, etc (basicamente em qualquer lado se troca dinheiro). Neste caso, a melhor forma será avaliar as taxas de câmbio e ver onde compensa mais. Teoricamente, os bancos e casas de câmbio certificadas oferecem taxas de câmbio próximas da taxa de referência (publicada todos os dias pelo Banco Central Europeu). Porém, em países em desenvolvimento, isto nem sempre acontece e, muitas vezes, conseguimos melhores negócios em lojas ou hóteis. E isto depende muito do destino, portanto o melhor será pesquisar atempadamente qual a melhor forma de trocar dinheiro nesse país.

 

Notas:

– Atenção que, em alguns países, notas mais altas implicam um câmbio mais favorável. Ou seja, compensa mais trocar 100 € com uma nota de 100 € do que com 10 notas de 10 €. Isto acontece porque os bancos, casas de câmbio e comerciantes pagam um custo associado ao tratamento e recolha de numerário, que volta para o mercado cambial. Esse valor é tanto maior quanto maior for o volume de moeda. Logo notas grandes implicam um menor volume, logo um menor custo para eles, e, consequentemente, um melhor câmbio para o cliente.

Fiz uma simulação e a diferença entre trocar uma nota de 100 € e dez notas de 10 € numa casa de câmbio tailandesa ficava por 0,26 €. Não é um grande valor, mas, em viagens longas, pode revelar-se numa grande despesa.

– Atenção à troca de moeda na rua pois podem trocar o vosso dinheiro por moeda falsa. Isto é muito comum em países da América do Sul. Convém sempre trocar dinheiro em locais certificados para o efeito.

– Em locais remotos, afastados dos grandes centros urbanos, o câmbio não costuma ser favorável. Isto porque não há tantas casas de câmbio e, havendo menos concorrência, o preço sobe. O melhor será trocar dinheiro antes de lá chegar.

– Trocar dinheiro ao fim de semana pode também ser desvantajoso. O mercado cambial fecha ao fim-de-semana mas as casas de câmbio continuam abertas. Portanto estas, geralmente, aumentam as taxas de câmbio para, caso haja uma desvalorização da moeda muito grande na segunda-feira, não ficarem a perder dinheiro. Outro motivo pelo qual a taxa de câmbio sobe ao fim-de-semana deve-se ao aumento do número de turistas e, por conseguinte, a uma maior necessidade de recorrer ao câmbio.

 

1 comentário em “Dinheiro em viagem – Parte I”

  1. Muito interessante. Foi o único link que encontrei que me esclareceu se vale mais trocar na origem ou no destino. No destino onde abunda a moeda que queremos. Não me vou esquecer. Muito obrigada

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